quinta-feira, 9 de junho de 2011

ESTÓRIAS E LENDAS DO POVO DE CAMPOS DO JORDÃO, Pedro Paulo Filho



ou: como sobreviver a mais uma temporada de inverno e sandices






José Saramago, do alto da autoridade de quem o único Nobel de Literatura cuja língua materna é a portuguesa, afirma, em seu “As Intermitências da Morte”(Companhia das Letras, 2005), que “toda cidade essencialmente turística acaba por se transformar em uma cidade de plástico”.
Calma. Ninguém é tão ingênuo para negar a importância da temporada de inverno para nossa querida Cidade, nem tão louco a ponto de dispensar sua importância para a nossa escassa economia –sem falar na geração de empregos diretos e indiretos, divulgação e projeção da marca –ops, do nome- da Cidade, índices de vendas e negócios, valores envolvidos, especulação imobiliária, etc. Calma. A frase do parágrafo anterior tem apenas o objetivo de nos situar diante do que acontece conosco, e com nosso cotidiano, às vésperas desta usina de malucos que se instala em Campos do Jordão nesta época do ano. Afinal de contas, entramos de novo no momento em que a maioria dos jordanenses se reduz a uma mera máquina de ganhar dinheiro –ou de tentar ganhar dinheiro que, por maior que seja o valor, muitas vezes mal dá para começar a pagar as contas que se acumularam ao longo do ano.
Como é impossível ficar de fora deste imbróglio -dado que, como parte desta geografia, somos atropelados por toda essa gama de movimentação e desmantelos que invade a Cidade- resta-nos arregaçar as mangas para dar “conta do recado”, na esperança que a temporada acabe depressa para que possamos voltar a usufruir integralmente destes inigualáveis Campos do Jordão que, com exceção de alguns feriados prolongados, é nossa por quase onze meses.
Uma boa alternativa para tentar diminuir os efeitos da temporada e procurar manter viva nossa condição jordanense -nossa “jordanice”, por assim dizer- é dedicarmos as poucas horas de lazer e descanso que nos sobram à leitura de bons livros. Da minha parte, é o que tenho feito, a bordo das “Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão”, de Pedro Paulo Filho, o nosso doutor Pedrinho -a cuja leitura me dedico com indesculpável atraso, presenteado que fui pelo autor há pelo menos quatro anos, pelo que consta na dedicatória.
Trata-se de uma obra que pode ser resumida em um adjetivo: fascinante. Para aqueles que nasceram, vivem ou dedicam a esta terra o amor sincero de seus corações, este conjunto de textos leves e bem escritos tem o poder de transportar o leitor a épocas inimagináveis, desde os primórdios até os dias mais recentes, tecendo lendas e acontecimentos que nos remetem aos dias atuais, em uma infinita rede de tramas, fatos e pessoas que nos permitem, durante e ao final da leitura, manter aceso nosso amor por esta cidade -sua cultura, sua gente, seu sotaque, suas raízes, enfim, tudo aquilo que nos representa e nos significa.
Porque, assim como em todos os anos, a temporada passa. Os shoppings, os stands, os bares, as boates, os comas alcoólicos, o paulistanês que grassa pelas nossas esquinas, os passeios de cachorro assistidos por ambulância e psicólogos, os “artistas” –tudo isso, anual e felizmente, passa.
Campos do Jordão, ao contrário, permanece no presente e na memória do seu povo, assim como também na genialidade de um Pedro Paulo Filho, inegável talento a registrar, como fazem os verdadeiros artistas, os impagáveis acontecimentos de seu tempo, sua terra e sua gente.
Nosso passado e nosso futuro residem em obras como esta, em cujas páginas permanecem o fascínio, as lutas e a beleza de nossa gente –e suas “Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão”.

1 comentário:

  1. Benilson: julho em Campos do Jordão e janeiro em Ubatuba, fazer o que né?Ossos do oficio, quer dizer, do turismo! ;)

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