sábado, 8 de outubro de 2011

SUSURROS DEL ALMA, Maria Cristina Drese


Chegam desde Buenos Aires, Argentina, os versos novos de uma poeta sempre presente nos eventos literários brasileiros (e não só no Rio Grande do Sul, fronteira e campo): María Cristina Drese, que neste seu novo livro vem ratificar a mesma potência, o mesmo lirismo, a mesma contundência e força que caracterizam sua obra. Falar de Drese, e por conseguinte deste seu novo livro, é falar de uma poesia que remete ao que de mais profundo e poético pode produzir a alma humana. Drese é uma artista cuja obra transita entre o lírico (ver os poemas "Entrega" e "Penas"), a busca pela esperança ("Destino Incierto"), além de outras características que não podem jamais faltar na obra de uma grande poeta. A ver alguns versos: "Le pregunta al mar/en qué templo/se encuentra la libertad"; "Mañana buscaré la libertad/como ave en el amanecer"; "con la fantasia de sentir tu presencia/mientras la lluvia persiste y cae/cae la cortina de recuerdos...". Com Maria Cristina Drese, a literatura argentina, e em especial sua poesia, está em excelentes mãos.

domingo, 2 de outubro de 2011

A ROMANA, Alberto Moravia


Romance, 1947, 410 páginas (Nova Cultural, 1987). Para quem não ainda não é iniciado no autor, chama a atenção a tradução feita por Marina Colasanti para esta publicação da Nova Cultural. Adriana, jovem, bonita, generosa e inocente, vive de forma paupérrima com a mãe, costureira, na periferia da Roma fascista (anos quarenta, subentende-se). Cercada de miséria e privações, a bela Adriana é praticamente induzida pela mãe e por uma colega de trabalho ao mundo da prostituição -que passa a praticar sem muita resistência, na esperança de livrar-se dos problemas financeiros e proporcionar à mãe uma vida melhor. Apesar de sua vida na marginalidade, Adriana não abandona seu sonho de encontrar um homem que ame, casar-se e ter filhos. Dos vários amantes que amelhoa nesta nova profissão, destacam-se Mino, estudante por quem ela se apaixona, Sonzogno, criminoso perseguido pela Justiça, e Astarita, oficial da Polícia Política do Governo. Narrado em primeira pessoa através de um estilo impecável e uma capacidade incrível de alinhamento da trama, o livro leva o leitor a um final surpreendente e emocionante, onde o destino dos principais personagens se entrelaça e ganha tons de drama e tragédia. Leitura recomendadíssima.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

INCIDENTE EM ANTARES, Érico Veríssimo


Uma das obra-primas do grande escritor gaúcho, que neste romance narra de forma empolgante um fato ocorrido em 13 de dezembro de 1963, na fictícia cidade de Antares, fronteira do Brasil com a Argentina. Dono de um estilo único, com rara habilidade e eloquência, o autor oferece o que há de melhor em sua capacidade criadora, na criação dos personagens -inesquecíveis, nos detalhes das paisagens e no desenrolar da trama. Um lugarejo pequeno (cuja gênese também é apresentada na primeira parte), que com o passar do tempo se "desenvolve" e cresce, até desaguar no lugar-comum onde se alojam algumas das mais conhecidas misérias humanas, representadas pelos donos dos poderes constituídos. Corrupção, assassinatos, adultérios, chantagens e traições, peculatos, torturas, inúmeras revelações que virão à tona na segunda parte do livro, de uma forma surpreendente e inesperada, e que proporcionarão ao leitor o inequívoco sentimento de estar diante de uma das mais originais e completas narrativas da literatura brasileira em todos os tempos -tempos, aliás, em que nossos escritores tinham algo a dizer, e não se perdiam em verborragias gratuitas e incompreensíveis.

domingo, 14 de agosto de 2011

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, José Saramago



Do que é capaz o homem em uma situação extrema? Até onde pode chegar para saciar um desejo ou uma necessidade física? O que nos diferencia de um animal com fome? É direito de um governo dar cabo de alguns para a preservação e benefício da maioria? A solidariedade resiste a, por exemplo, a chance de se subtrair o bem pertencente a outrem? Com seu estilo próprio e inimitável, José atinge sua maturidade como escritor ao proporcionar à literatura um quadro caótico que representa um inventário de tudo o que há de pior na natureza humana, quando posta em condições inimagináveis. Duzentas e setenta pessoas contaminadas pela cegueira conhecida como "mal branco" (e não a cegueira da treva, da escuridão, do breu) são confinadas em uma espécie de sanatório e isoladas do resto do mundo. Uma única pessoa -a mulher do médico- é poupada da epidemia, e passa a auxiliar seu grupo, pagando o preço de, vendo, testemunhar a miséria a que todos ficam expostos. Como em outros livros do autor, há também um cão, o "cão das lágrimas", que passa a acompanhar o grupo e, de certo modo, servir de companhia e "consciência". Junto com o Memorial do Convento e o Levantado do Chão, Ensaio Sobre a Cegueira fecha a "Santíssima Trindade" do fabuloso escritor português. Ensaio foi levado aos cinemas recentemente pelo brasileiro Fernando Meirelles, numa versão elogiável e correta da obra literária. Mas nada que se compare à magnitude do livro.

domingo, 7 de agosto de 2011

DE LEMBRANÇAS & FÓRMULAS MÁGICAS, Edson Bueno de Camargo


Já se disse que a memória é matéria-prima para a Poesia. Com base nesta afirmação, que nos ocorre ao terminar a leitura deste livro, a impressão que fica é que o brilhante poeta paulista nada mais faz do que apresentar um convite: pega o leitor pela mão e, cuidadosamente, o introduz em seu universo de memórias repleto de imagens e figuras permeados pelo sentimento que caracteriza os verdadeiros poetas: o de não-pertencimento ao mundo onde está inserido. A presença recorrente da avó a reconhecer a condição "diferente" do menino ("este menino é meio aluado / estranho e taciturno / vê coisas em cima do guarda-roupa / que só ele percebe e sente"), a figura opressora e tirânica da fábrica a extirpar o "resto da infância e a adolescência" e "se apossar do silêncio de todas as manhãs", a genealogia da família, a casa da Rua Vittorio Veneto e a definitiva vocação para a Poesia desaguam no destino a conduzir o menino, e depois o homem, ao encontro da Poesia, a quem se une para jamais abandonar. Edson -poeta premiado e indubitavelmente dos mais relevantes da atual geração- expõe generosamente suas memórias, e compartilha com o leitor o maior patrimônio de sua obra, que é a declaração da Poesia como parte de um legado do qual não se pode fugir.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR, Hermann Hesse


Coletânea de 550 frases e aforismos de autoria do escritor alemão, pinçadas dos seus livros, sobre temas como morte, amor, livros, política, religião, educação, arte etc. Do ponto de visto literário, nada a declarar. Interessante, porém, travar conhecimento com o pensamento e as impressões do artista com relação a temas que, até hoje, inquietam a sociedade. Sua postura diante do comunismo, por exemplo -quando chega mesmo a defender sua adoção e vaticinar o sistema como "destino irrevogável da sociedade"-, dá cores curiosas à leitura, ainda que à época o autor pudesse estar ainda sob os efeitos da Révolução de 1917. Apesar do nome da obra, entretanto, a proporção dos verbos é indevida: há muito o que ler -e quase nada a provocar o pensamento. O objetivo do livro, na verdade, foi alcançado: aprofundar-se no coração do escritor e na sua postura diante do mundo. E provocar a leitura dos seus livros. Para os admiradores e estudiosos de Hesse, não há dúvida de que se trata de leitura obrigatória.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

ADEUS ÀS ARMAS, Ernest Hemingway




Novela autobiográfica do renomado autor americano, que retrata todo o horror e insanidade vividas por Henry, um tenente condutor de ambulâncias que serve na Itália durante a Primeira Grande Guerra. Em meio às agruras que o ambiente hostil lhe reserva, o personagem se apaixona por Catherine, uma enfermeira inglesa com quem sonha casar-se tão logo termine o conflito. Em meio a fugas espetaculares, ambos fogem para a Suíça, onde um destino surpreendente dará cabo de todas as esperanças e projetos. O final da história, não por coincidência e aquém de obviedades, pode requerer uma dose extra de fôlego.
A edição de 1970 da Companhia Editora Nacional traz tradução de Monteiro Lobato, o que colabora para a manutenção do nível literário da obra.
Excelente oportunidade para iniciar-se na obra de Hemingway -ainda que o estilo e o ritmo da narrativa possam causar enfado a leitores mais exigentes.