segunda-feira, 25 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR, Hermann Hesse


Coletânea de 550 frases e aforismos de autoria do escritor alemão, pinçadas dos seus livros, sobre temas como morte, amor, livros, política, religião, educação, arte etc. Do ponto de visto literário, nada a declarar. Interessante, porém, travar conhecimento com o pensamento e as impressões do artista com relação a temas que, até hoje, inquietam a sociedade. Sua postura diante do comunismo, por exemplo -quando chega mesmo a defender sua adoção e vaticinar o sistema como "destino irrevogável da sociedade"-, dá cores curiosas à leitura, ainda que à época o autor pudesse estar ainda sob os efeitos da Révolução de 1917. Apesar do nome da obra, entretanto, a proporção dos verbos é indevida: há muito o que ler -e quase nada a provocar o pensamento. O objetivo do livro, na verdade, foi alcançado: aprofundar-se no coração do escritor e na sua postura diante do mundo. E provocar a leitura dos seus livros. Para os admiradores e estudiosos de Hesse, não há dúvida de que se trata de leitura obrigatória.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

ADEUS ÀS ARMAS, Ernest Hemingway




Novela autobiográfica do renomado autor americano, que retrata todo o horror e insanidade vividas por Henry, um tenente condutor de ambulâncias que serve na Itália durante a Primeira Grande Guerra. Em meio às agruras que o ambiente hostil lhe reserva, o personagem se apaixona por Catherine, uma enfermeira inglesa com quem sonha casar-se tão logo termine o conflito. Em meio a fugas espetaculares, ambos fogem para a Suíça, onde um destino surpreendente dará cabo de todas as esperanças e projetos. O final da história, não por coincidência e aquém de obviedades, pode requerer uma dose extra de fôlego.
A edição de 1970 da Companhia Editora Nacional traz tradução de Monteiro Lobato, o que colabora para a manutenção do nível literário da obra.
Excelente oportunidade para iniciar-se na obra de Hemingway -ainda que o estilo e o ritmo da narrativa possam causar enfado a leitores mais exigentes.

domingo, 17 de julho de 2011

CONVERSAS COM VARGAS LLOSA, Ricardo Setti



Imperdível para vários tipos de interesse: literatura e criação, linguística, política, cultura e história estão presentes neste livro, que retrata uma série de entrevistas concedidas pelo escritor peruano -e atual Nobel de Literatura- em sua casa em Lima ao jornalista d´O Globo (hoje Veja), nos anos setenta.
Um dos momentos mais interessantes dos diálogos é a aparente aversão de Llosa à política, em contrapartida à sua candidatura ás eleições presidenciais, anos depois, derrotado por Fujimori, e sua atuação no sufrágio mais recente. Uma das frases do entrevistado, a est respeito: "A literatura importa mais que a política, à qual todo escritor deveria aproximar-se somente para obstruir-lhe os lances, recordar-lhe seu lugar e opor-se a seus malefícios".
Recomendável não somente para os amantes da grande obra de Llosa, mas a todos que, de uma forma ou de outra, percebem a arte literária como mola propulsora e catalisadora de parte do pensamento humano.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O FILHO ETERNO, Cristóvão Tezza



Livro autobiográfico que traz à tona a questão da Síndrome de Down infantil, porém com menos piedade e pieguice do que usualmente estamos acostumados. O narrador -o próprio autor- tece com extrema habilidade e autenticidade o turbilhão de acontecimentos e desvarios que invade a vida de quem recebe a notícia de que vai ser pai de um filho especial. A trama envolve o leitor de forma definitiva, fazendo com que tome parte na história e acompanhe a lenta e profunda transformação por que passa o autor, que vai da incredulidade (e vai ao fundo do poço, quando "descobre" que os portadores da Síndrome têm vida curta) à aceitação e ao amor incondicional, que fazem desta obra uma leitura obrigatória. E que proporcionou ao autor a justa notoriedade e reconhecimento.

domingo, 3 de julho de 2011

GRAMÁTICA EXPOSITIVA DO CHÃO, Manoel de Barros


Mais do que uma Antologia, a Gramática Expositiva do chão representa para a Poesia brasileira o testemunho de um dos mais originais e autênticos estetas da língua. Não somente por retratar as características de uma região pouco "poetizada", como o Pantanal, mas sobretudo por propor a valorização das "coisas desimportantes" e pequenezas afins. Para os não-iniciados, a poesia de Manoel seguramente há de causar estranheza, o que é proporcionalmente semelhante à imensidão do Pantanal retratado: quando os olhos se acostumam, às vezes não dão conta de guardar em si tanta beleza. Um livro para se ter amor.

sábado, 2 de julho de 2011

CARTAS DA PRISÃO, Frei Betto




Registro magistral e autêntico de um período conturbado e turbulento da História recente do Brasil: em novembro de 1969, o líder da Aliança de Libertação Nacional (ALN) e dirigente comunista Carlos Marighella é atraído pela polícia para uma emboscada e morre em meio a um tiroteio, em S. Paulo, quando imaginava estar se dirigindo para uma reunião com frades dominicanos. Consumada a execução, segue-se a prisão de Frei Betto e mais três amigos, acusados de serem “responsáveis pelo esquema de fronteiras da ALN”.
O relato que se segue, em estilo epistolar, se constitui em um documento de leitura obrigatória para um breve entendimento de um dos episódios que marcou parte do regime militar no Brasil em uma de suas fases mais contundentes –os anos 1970.
Betto entremeia o discurso contido em sua correspondência –remetida aos pais, aos amigos, aos colegas, aos irmãos de fé- entre a política e a igreja, ao longo dos quatro anos de cárcere, convivendo com presos comuns e refletindo sobre a importância da participação dos homens de bem para transformação do ambiente social e político. Refere-se às injustiças e à manipulação da massa para o assentamento do sistema capitalista, através da alienação e do uso de práticas repressivas.
As passagens mais monótonas –ainda que não menos belas, sobretudo devido aos ensinamentos de cunho cristão- são as que se referem ao momento político da Igreja, quando os textos são repetitivos e panfletários.
Não há como evitar a referência às cartas do Apóstolo Paulo que, quando esteve preso, utilizava-se de cartas para manter contato com as Igrejas cristãs.
O leitor não encontrará, nas Cartas de Betto, uma única linha ou referência sobre o episódio que culminou com sua prisão e condenação, o que pode levar à presunção talvez errônea de culpa. Diante, porém, das lições de vida, senso de justiça e espiritualidade constantes nas Cartas, ser culpado ou não passa a ser, pelo menos neste momento da História, irrelevante.
Destaque também para a primorosa abertura, a cargo de Alceu Amoroso Lima.